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ESTUDO 1 - Swords of Mars



Eu sempre escuto alguém falar sobre a obra do Frank Frazetta, algo tipo:
"Ele faz com que suas obras pareçam pintadas com muita facilidade e tem algo nelas que nos encanta e não conseguimos desgrudar os olhos".
Bem, eu também tive a mesma impressão desde o primeiro contato antes de estudá-las a fundo. De lá pra cá já se vão quase 30 anos estudando a "complexa facilidade de suas pinturas". É um paradoxo sim. Frazetta assim como um mágico e suas cartas, nos mostra o truque mas não nos revela a mágica. É preciso aguçar o olhar para ver e entender a exata intenção da sua maestria.
Isso eleva esse artista supremo ao nível de mestres como Rembrandt e Rubens.

SWORDS OF MARS - 1975

Nessa fantástica pintura " Swords of Mars", Frazetta brinca ao direcionar nosso olhar como ele deseja que olhemos sua obra. Isso é para poucos. É preciso um domínio absurdo.

AÇÃO DINAMIZADA - formas circulares:
Frazetta emprega o uso dos círculos para promover a total ação dos personagens da pintura.
Notem que em uma associação, veremos uma exata engrenagem de relógio, com suas peças circulares trabalhando em perfeita harmonia.

AÇÃO DINAMIZADA

CONDUÇÃO DO OLHAR - O caminho para além da pintura:

Rudolf Arnheim em seu livro " Arte e percepção visual" nos mostra a dinâmica do olhar sobre uma obra de arte. Vejam o que ele diz:

As composições dos adultos raramente são tão simples quanto as percepções das crianças; quando o são, nossa tendência é duvidar da maturidade do autor. Isso ocorre porque o cérebro humano é o mecanismo mais complexo da natureza e, quando uma pessoa formula uma afirmação que deve ser digna dela, deve torná-la suficientemente rica para refletir a riqueza de sua mente. Os objetos simples podem nos agradar e satisfazer preenchendo adequadamente funções limitadas, mas todas as verdadeiras obras de arte são absolutamente complexas mesmo quando parecem "simples".

 Frazetta trabalha isso de forma magistral. Sabe muito bem como quer que a sua pintura seja lida.

FIGURA A:
Fio condutor - A condução principal do olhar.:
 Será ele o responsável por levar o olhar a percorrer todo o quadro até atingir o foco de interesse.
FIGURA A


FIGURA B:
Estabilização do olhar.
Esses círculos entrelaçados, grandes e quase ao centro do quadro (simetria) assentam o olhar e dão à pintura um ponto onde a ação se desenrolará. Dessa maneira o olhar não se perde em detalhes fora dessa ação. Além disso os círculos unem o cenário (círculo azul menor) e ação (círculo azul maior).

FIGURA B

FIGURA C:
Interligação da ação.
Formas circulares interligadas ( interseção) dão mais força a ação do que se estivessem distantes.
Magistralmente planejado; para qualquer parte da ação que movamos o nosso olhar; sempre esbarramos com uma circunferência que nos faz estar sempre girando a atenção na mesma ação.

FIGURA C

FIGURA D:
Pontos circulares de harmonia - PARTE1.

Frank Frazetta pensou em tudo nessa obra prima, inclusive no equilíbrio calculado da ação. O nosso olhar estaria tão intenso nessa pintura que talvez chegássemos até a nos cansar dela e com isso deixássemos de olhar para a pintura pelo tempo necessário e pensado do mestre. Para tal, ele aplicou o uso de pequenos círculos distribuídos pelo quadro de forma a estabilizar essa adrenalina toda.
E no centro deles de novo aparece o foco maior de interesse, a expressão do guerreiro. Notem que Frazetta escondeu todas as outras expressões deixando apenas clara a do protagonista da ação.


Triângulo escondido - PARTE2.

Muito embora a composição tenha sido criada sob formas circulares, Frank Frazetta insere além disso uma composição triangular. Com isso assenta a base da pintura e firma ela solidamente. Dessa maneira genial, o quadro não fica "sambando" com tantas figuras circulares, mas sim, equilibrado em uma base imóvel firme.
FIGURA D - PARTE 1 e 2


FIGURA E:
Foco de interesse com o emprego da luz e do círculo.
Como fazia seu contemporâneo, o mestre Norman Rockwell, Frank Frazetta se mune do círculo luminoso para dizer à todos: "Olhem a ação toda, mas não deixem de torcer pelo herói!". Por isso ele estoura a luz da cúpula do palácio bem atrás da cabeça do guerreiro fazendo um contraste intenso com o seu cabelo preto e esvoaçante.
FIGURA E


FIGURA F:
Adiantando a ação - PARTE 1.
Frank Frazetta é mestre nisso. Ele nos brinda em algumas pinturas três segundos após a  expectativa da ação.
Isso é fantástico porque nos coloca dentro da movimentação da pintura. Isso mexe com o nosso psicológico e nos envolve com o que está acontecendo, ao contrário de muitos artistas que antecipam esse momento e estabilizam a ação psicológica. Essa é também uma outra forma de se mostrar uma ação que está para acontecer, como no exemplo abaixo do quadro do artista Boris Vallejo, mas se ao compararmos com o do Frazetta notamos a discrepância total de ação.
FRANK FRAZETTA x BORIS VALLEJO
FIGURA F


FIGURA H
Adiantando a ação - PARTE 2.
Vejam na figura abaixo  mais um exemplo de "adiantamento da ação".
No quadro do Boris Vallejo a ação é dura e prestes a acontecer. Não temos confiança no guerreiro com a espada simplesmente porque não estamos envolvidos verdadeiramente nessa ação.  O Boris não nos dá uma leitura clara para torcermos por um ou por outro, apenas nos mostra dois guerreiros estáticos.
Já na pintura do Frazetta a ação é adiantada em um segundo, quando o guerreiro acabou de dar uma facada no oponente. Somos levados para dentro da ação e não conseguimos ficar indiferente à isso. TORCEMOS pelo guerreiro e sua mulher. De novo notamos a composição circular e triangular.

FIGURA H





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Até o próximo estudo... 

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